Em Belarús, o dólar americano poderia ser considerado mais uma moeda nacional. Não é bem por influência econômica ou cultural dos Estados Unidos (ao meu ver, o Brasil é muito mais influenciado e nem por isso é tão ligado à moeda dos EUA). Simplesmente, ele é muito útil. Por pelo menos cinco razões.
1) O dólar americano é a moeda favorita dos belarussos, pois nela se pode ver caras de presidentes diferentes. É uma velha piada, mas continua sendo atual: o líder de Belarús não muda desde 1994, as notas não têm a cara dele, mas já mudaram várias vezes nesse tempo, e o dólar continua com o mesmo design.
2) Lukashenko sempre promete na campanha eleitoral dele que o salário médio (lá é uma referência válida, pois a população economicamente é mais homogênea do que no Brasil) vai atingir em breve 500 dólares. O próprio líder da república conta em dólares. E até que consegue cumprir a promessa durante um curto tempo, segurando artificialmente o valor do rublo. Depois das eleições o rublo cai e a população entra em pânico, tentando salvar o pouco que sobrou e fazendo filas para casa de câmbio para comprar… dólares!
3) O rublo belarusso só de 1995 a 2015 caiu 1000 vezes (é sério, sem exagero). O dólar é muito mais estável. Se você tiver dinheiro, a melhor forma de guardá-lo é em dólares, embaixo do travesseiro.
4) Também é possível ter poupança em dólares, com pouco rendimento, comparado à poupança em rublos belarussos, mas termina sendo mais vantagem. Os bancos dão créditos e hipotecas tanto em rublos belarussos quanto em dólares. Se pegar em dólares, a taxa de juros é menor, mas quando houver queda rápida do rublo belarusso (como foi no final de 2014, antes em 2011, 2008 e por aí vai), você se arrepende de não ter pago taxa maior preferindo a moeda nacional.
5) E, finalmente, uma nota de 100, 50 ou até 20 dólares (dependendo das suas condições) pode ser um ótimo presente de casamento ou aniversário. Presentear dinheiro se tornou uma prática comum, porém, como um amigo meu comentou “só parentes malvados presenteiam rublos”. Realmente, deve ser em dólares (ou euro, opção mais recente, porém também válida), para que seus familiares ou amigos possam guardar.
Este artigo foi escrito por Volha Yermalayeva Franco.
Belarussa. Mora em Salvador. Professora de belarusso, russo, inglês e português para estrangeiros. Co-autora do livro didático de português para falantes de russo “Португальский шутя. 250 бразильских анекдотов” (“Aprenda português brincando. 250 piadas brasileiras”). Cantou na banda folclórica belarussa “Guda”. Ministrou oficina de vytsinanka, arte tradicional belarussa de papel recortado, no Museu de Arte Moderna da Bahia. Formada em Patrimônio Cultural e Turismo pela Universidade Europeia de Ciências Humanas, em Vilnius, Lituânia. Mestranda em Conservação e Restauro pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia. Trabalha com tradução e legendagem de filmes soviéticos, belarussos e russos. Escreve sobre Belarús, sua cultura e patrimônio.
hahahaha Excelente.