Escrito por Marco Rodrigues
No texto “A morte de Ivan Ilicht” , Leon Tolstói nos evoca a refletir sobre a vida deste personagem, repleta de acontecimento após um impacto que o surpreende.
Em cerca de 80 páginas, breves, evidentemente, mas com grande profundidade, o que se percebe é um texto profundamente atual e que pode servir de comparativo para o contexto brasileiro sobre a corrupção, arranjamento de cargos, jogos de conveniência, ou se preferir, nepotismo.
Ivan Ilicht é um juiz de instrução e começa sua carreira com um casamento arranjado, é nomeado promotr em São Petersburgo e alcança sua estabilidade financeira. Mas, de repente, Ivan Ilicht é pego de surpresa e uma grave doença toma conta de seu corpo e com isso sua vida torna-se um inferno.
Aqueles, que, a princípio, estavam ao seu lado, o abandonam, e com tanta tragédia, Ivan começa a enxergar a vida com outros olhos. Percebe que a dor física que o acomete é tão forte quanto a dor moral que atinge os homens. Aos poucos, percebe também que sua vida familiar é um vazio, o casamento é fútil (aliás, a questão do casamento também é duramente criticada em outra obra, Anna Karenina) e tudo se torna m horror com o sentimento de morte que lhe invade.
Apesar dos pesares, encontra um sentido na vida quando começa a manter um laço de amizade com o copeiro Guerássin. Este é o único que consegue manter um elo de humanidade com seu patrão.
Um fato interessante de mencionar nesta obra são as ressonâncias existentes na memória de Ivan Ilicht. Cda vez que volta para trás, mais vida havia, e é justamente aí que percebe o resumo de sua vida repleta de interesses e jogos maliciosos em busca de algo.
Neste sentimento de morte que a cada dia é mais forte e evidente, Ivan Ilicht percebe o que foi verdadeiramente sua vida. Milton Hatoum resume bem este ponto, “o sofrimento mais terrível e a libertação desse mesmo sofrimento mais terrível não se excluem, mas convivem de forma intensa”, numa rara experiência que poucos escritores conseguem exprimir.
Este texto, certamente é um dos mais belos por justamente tratar os temas de forma breve e intensa, em uma rara experiência onde a existência de um homem bem sucedido é colocada em questão a partir da morte que se anuncia de forma breve em sua vida.
